A primeira vez que tive contato com algum filme de Lynch foi com Veludo Azul. Comprei o DVD no site das Americanas nos anos 2000. Foi o máximo. Já tinha assistido ao filme no computador, mas como na época a tecnologia não era tão favorável para vídeo no PC, optei por comprar o filme em cópia física. Foi uma experiência fantástica! Lembro que assisti ainda em TV de tubo com um aparelho de DVD que eu comprei com meu próprio dinheiro quando tinha começado a trabalhar na época. Parecia que eu tinha feito uma mágica. Era meu, o filme era meu, a experiência era toda minha. Parecia que eu tinha criado tudo aquilo.
Poster de Mulholland Drive
“Veludo Azul” (Blue Velvet), foi lançado em 1986. É um filme que mistura suspense, drama e elementos de noir psicológico. A história segue Jeffrey Beaumont (Kyle MacLachlan), um jovem que retorna à sua cidade natal após o pai sofrer um acidente. Ao encontrar uma orelha humana cortada em um campo, Jeffrey começa a investigar o caso, mergulhando em um mundo obscuro e perturbador sob a superfície aparentemente tranquila da cidade.
Sua busca o leva a conhecer Dorothy Vallens (Isabella Rossellini), uma cantora de cabaré envolta em um relacionamento abusivo e sádico com o criminoso Frank Booth (Dennis Hopper), um homem violento e imprevisível. À medida que Jeffrey se aproxima de Dorothy, ele se vê cada vez mais enredado em uma teia de perversão, violência e mistério, enquanto tenta equilibrar sua curiosidade mórbida com seu romance com a ingênua Sandy (Laura Dern).
O filme é conhecido por sua atmosfera surreal, exploração de temas como o dualismo entre o bem e o mal, e a exposição do lado sombrio da natureza humana. A atuação intensa de Dennis Hopper como Frank Booth é particularmente marcante, tornando-se um dos vilões mais icônicos do cinema. “Veludo Azul” é uma obra provocativa e visualmente impressionante, consolidando David Lynch como um mestre do cinema surreal e perturbador.
Para mim, a cena mais icônica e maravilhosa é quando a Sandy (Laura Dern) surge de uma escuridão para falar com o Jeffrey. Eles iam se encontrar num bosque. Aquilo povoou minha mente por anos 🤣 Tão simples, mas tão perturbador.
Logo depois, o segundo filme do David Lynch que simplesmente tomou meu coração de assalto foi Mulholland Drive. Minha nossa! Ainda lembro a primeira vez que assisti. Foi assim: um amigo me emprestou uma fita VHS para assistir uns clipes musucais. Não lembro quais agora, mas provavelmente era algo sobre Cyndi Lauper e anos 80. Quando os clipes acabaram, a fita ficou rodando. E do nada começou um filme. Fiquei assistindo… O clima bem noir, uma mulher sozinha numa limosine numa avenida escura, letreiros aparecendo, Mulholland Drive na tela piscando e boom! De repente um acidente! Ela sai andando a esmo, solta, ferida. Como eu não ia assistir aquilo? Era 2004. Internet discada, comunidades do Orkut. Eu ficava bastante tempo procurando sobre “significados” e era fantástico. Lembro de uma comunidade sobre o filme e eu cheguei a discutir por longos períodos com uma galera.
A narrativa do filme começa com um acidente de carro em uma estrada sinuosa de Los Angeles, onde uma mulher (Laura Harring) sobrevive, mas perde a memória. Ela adota o nome “Rita” e se refugia em um apartamento, onde conhece Betty (Naomi Watts), uma aspirante a atriz recém-chegada à cidade, cheia de sonhos e ingenuidade.
Juntas, as duas embarcam em uma jornada para descobrir a identidade de Rita, mas a trama rapidamente se transforma em uma espiral de sonhos, ilusões e realidades distorcidas. O filme alterna entre cenas de glamour hollywoodiano e um submundo sombrio, repleto de personagens excêntricos e eventos inexplicáveis. Conforme a história avança, os limites entre fantasia e realidade se dissolvem, revelando uma trama complexa sobre amor, obsessão, traição e a natureza ilusória do sucesso.
Mulholland Drive é muito cultuado por sua estrutura narrativa não linear, atmosfera onírica e simbolismo profundo. A atuação de Naomi Watts é aclamada, especialmente pela forma como ela transita entre a inocência de Betty e a complexidade emocional de sua contraparte mais sombria. O filme é considerado uma das obras-primas de Lynch, explorando temas como identidade, desejo e o lado obscuro do sonho americano, enquanto desafia o espectador a interpretar suas múltiplas camadas de significado.